Quando o Rei Arthur e os Cavaleiros
da Távola Redonda
fizeram uma Viagem ao Centro da Terra
A música sempre esteve presente na rotina da “galera” da ‘Homem de Melo’ e arredores. Ouvíamos e dançávamos vários estilos, rock, música lenta – melódica e “melosa”, Beatles (que não era bem da nossa época, porque éramos muito jovens pra eles, mas era muito “cult”), Secos e Molhados, Roberto Carlos, trilhas de novelas globais… Discos. Muitos compactos simples e duplos e, bolachões de vinil, é claro!
Vitrolas à postos e tudo virava uma festa. Um dos nossos maiores ídolos era o dissidente do grupo de rock progressivo Yes, Rick Wakeman, ou, para os mais íntimos, apenas Rick. Todo mundo da rua tinha pelo menos um disco do Rick, com exceção da Marcelle que tinha todos!
Embalados pelas músicas instrumentais fantásticas desse gênio, sonhávamos e resolvíamos nossas angústias e dúvidas da pré-adolescência (expressão que nem existia naquela época), além de enxugar as lágrimas apaixonadas daquela amiga que tinha todos os seus discos. Paixão sim! E por Rick Wakeman, o Rick e suas lindas madeixas loiras! Aquele inglês com olhar de peixe morto, que se vestia como o Merlin, mas que conquistou o coração das meninas e o ouvido dos meninos. E assim passávamos nossos momentos musicais, planejando nossa viagem para a Inglaterra, onde seríamos recepcionadas pelo Rick.
Rick Wakeman gravou vários discos. Cada um de nós tinha o seu preferido. O meu era “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda” e a música mais ouvida era Guinevere, faixa que só não furou, porque naquele tempo as coisas tinham uma ótima qualidade. Músicas na ponta da língua, trilha sonora de uma história, de momentos, cada um com os seus.
É fácil imaginar qual era o maior sonho desta garotada, assistir a pelo menos um show do nosso maior companheiro, o Rick.
Em 1975, Rick Wakeman fez dois shows no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, que segundo meu amigo “revisor” ocorreram nos dias 20 e 21 de dezembro. Essa é de lascar, vai ter uma memória boa assim lá na praia! Obviamente, depois de muita imploração e ‘azucrinação’ nos ouvidos dos pais, que discretamente curtiam junto com a gente essa paixão, conseguimos estar lá. Nos dois! Todos nós. A galerinha de quatorze e quinze anos, empenhadíssima em ver de verdade e ouvir de verdade nosso ídolo, com toda a sua magia, e suas histórias de cavaleiros e de viagens fantásticas.
No primeiro dia foi apresentado todo o disco “Viagem ao Centro da Terra” e incorporadas algumas músicas de “Rei Arthur” e “Henrique VIII”. No segundo, reinou “Arthur”, mesclado com as viagens ao centro da terra de Henrique VIII… Enfim, ouvimos tudo duas vezes, em meio a dinossauros infláveis, jogos de luz, fumaças coloridas e coisinhas que caíam do teto do ginásio e brilhavam. Brilhavam tanto quanto nossos olhos, fixos e molhados. Pura emoção! Uma inesquecível viagem!
Há uns três anos, num dos meus típicos momentos de saudosismo inconsciente, encontrei numa loja um DVD de um show do Rick Wakeman, apresentado naquele mesmo ano em outra cidade. Comprei é lógico!
Cheguei em casa animadíssima e “obriguei” meus dois filhos (que já conheciam toda essa história) a sentarem e assistirem comigo, na ilusão de ver novamente aqueles momentos mágicos.
Neste dia percebi como as lembranças, as imagens que guardamos na nossa cabeça, são momentos únicos. Nunca mais verei o show do Rick Wakeman, e muitas outras coisas, como vi aos quatorze anos.
Beatriz Brasil – julho/2006
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